Monstruosidade |
A legenda da foto é a melhor descrição para a cena, uma verdadeira monstruosidade, que infelizmente se repete aos montes nas estradas do país. Escrever um texto sobre o problema da utilização de caminhões para a maioria do transporte de cargas dentro do Brasil iria render um livro e não um post, portanto, essa não é a minha intenção.
Gostaria de escrever aqui sobre o que ocorre diariamente na Ponte Rio-Niterói, principal ligação entre a cidade do Rio de Janeiro e as cidades do Norte Fluminense, Região dos Lagos e, mais importante ainda, principal ligação entre o município do Rio de Janeiro e Niterói/São Gonçalo, respectivamente 5º e 2º municípios mais populosos do estado. Em uma visão macro, é a ligação mais rápida entre os trechos da BR-101 Norte e Sul na região em que se encontra, cortando a Baía da Guanabara, evitando que seja necessário contorná-la.
Com extensão de pouco mais de 13km, a Ponte, como é chamada normalmente, possui um volume médio de tráfego beirando os 140 mil veículos por dia. Com 4 faixas de rolamento, a via é administrada pela CCR e possui câmeras monitorando toda a sua extensão e uma cabine da PRF em cada extremidade, monitorando a entrada e saída de veículos na Ponte. O pedágio cobrado hoje está em R$ 4,60, em apenas um sentido, resultando em um valor pago de aproximadamente R$ 0,17 por km rodado, caso o condutor a utilize nos dois sentidos.
A capacidade de escoamento de tráfego na Ponte se encontra à beira da saturação, com engarrafamentos diários em múltiplas ocasiões durante o dia, resultando em tempos de travessia superiores a 90 minutos, dependendo do horário e do dia da semana.
Para auxiliar no escoamento do tráfego, há bastante tempo já foi tomada uma medida que restringe o horário de tráfego para caminhões com mais de 2 eixos entre as 22h e 06h do dia seguinte, evitanto que monstros com várias toneladas se misturem às milhares de pessoas em ônibus e carros que apenas buscam chegar ao trabalho ou retornar às suas casas após um dia cansativo.
Não acredito que essa restrição venha a atrapalhar tanto o transporte de cargas, pois é uma janela ampla de 8hs, 1/3 do dia, que pode ser atingida com um schedule inteligente preparado pelas empresas.
Caso a realidade funcionasse de acordo com a proposta dessa restrição, seria muito bom, pois evitaria o choque entre a pressa dos motoristas de carros/ônibus com a pressa dos caminhoneiros. Mas não dá certo. Vamos entender o motivo.
Em primeiro lugar, como os congestionamentos na Ponte são mais frequentes entre 07h e 10h pela manhã e entre 16h e 21h à noite, a janela do período "sem congestionamento" se torna muito pequena, mesmo assim os motoristas costumam sair mais cedo de casa ou voltar mais tarde, visando aproveitar esse momento de 1h aonde não há congestionamento nem caminhões. Nem sempre dá certo, pois:
1. Se houver algum acidente antes dessa "janela sem congestionamento", o engarrafamento resultante irá invadir o horário da próxima janela, resultando em uma confusão ainda maior;
2. Pode acontecer o cenário mais crítico, que é o fato dos motoristas de caminhão com mais de 2 eixos não respeitarem o horário limite de início e término da sua permissão para trafegar na Ponte. É muito comum e diária a presença de monstros a partir de 21h e até as 7h da manhã;
O mencionado no item 2 já denota um problema grave por si só, ainda que o volume de caminhões fosse pequeno. Mas o volume não é pequeno. Acontece que nesses horários "clandestinos" o volume de caminhões (e a pressa destes) é muito maior, causando as seguintes situações abaixo:
1. Como uns caminhões podem estar bem mais lentos que outros na subida da Ponte, em virtude de estarem com sobrecarga ou serem de concepção mais antiga, os motoristas apressados de caminhões "mais rápidos" não se contentam em obedecer à fiscalização se mantendo à direita. Com isso, iniciam uma ultrapassagem. Como a Ponte possui 4 faixas de rolamento, isso não seria um problema tão sério, mas acaba sendo, visto que a Ponte foi projetada para 3 faixas largas. Com 4 faixas estreitas, um caminhão monstruoso ultrapassando na subidaoutro faz com que esses dois ocupem 3,5 faixas, a 50 km/h. Quantas faixas sobram para os carros? Pois é.
2. Na descida a situação inverte. Fato é que quase ninguém obedece o limite de velocidade na Ponte, que é de 80 km/h, mas quando se quer obedecer a esse limite, melhor não fazer isso no horário dos caminhoneiros apressados. Não é agradável uma monstruosidade com mais de 10 vezes o peso do seu carro crescer no seu retrovisor, lembrando que eles precisam de 1,5 faixa da Ponte para andar e você não pode (nem deve) trafegar pela faixa da esquerda sem dar passagem a veículos mais rápidos. Sentiu o drama?
3. Em engarrafamentos, um caminhão monstruoso ocupa o espaço de 1,5 ônibus (ou mais) e uns 4 ou 5 carros médios, fora o problema da largura, que impede o tráfego (indevido) de motocicletas nos "corredores" entre os veículos. Se um caminhão já causa confusão generalizada em um trecho da rodovia, imagine 100 ou 200 caminhões.
Mas como evitar isso? Digamos que um motorista de caminhão fosse flagrado na Ponte antes do horário estipulado para a circulação do seu veículo. Ao ser abordado pelo agente policial, qual seria a desculpa mais simples do motorista? Mostrar o relógio 1h adiantado ao policial, dizendo que para ele aquela é a hora correta. Simples.
Ou então como reter inúmeros caminhões para fiscalização sem engarrafamentos? Como manter vários caminhões aguardando o horário de entrada, como muitos já fazem, mas sem comprometer a fluidez do tráfego nas vias de acesso à ponte? Deixo algumas sugestões abaixo.
- Manter um relógio oficial em ambas as entradas da Ponte, devendo ser a hora ali mostrada o parâmetro a ser tomado para fiscalização;
- Monitorar pelas câmeras e radares o tráfego de caminhões fora do horário correto, o tráfego desdes fora da faixa à direita, o abuso da velocidade, etc;
- Aumentar o efetivo da PRF em circulação pela Ponte, banindo os abusos cometidos por caminhoneiros e outros motoristas;
- Monitorar por GPS os caminhões, evitando um fluxo descoordenado de caminhões nos horários com muito tráfego de outros veículos, informando às transportadoras os melhores horários para adequação ao schedule;
- Redução da "janela", alterando o horário permitido para 23h-5h;
- Aumentar o efetivo do patrulhamento policial em estradas, diminuindo o risco de violência que os caminhoneiros encontram ao trafegar na madrugada;
- Acelerar as obras do Arco Metropolitano, banindo definitivamente o tráfego de caminhões na Ponte ou restringindo ainda mais os horários;
Claro que há outras medidas que poderiam ser tomadas, em um âmbito mais generalizado, mas não é o caso, visto que precisamos de ações de curto/médio prazo para evitar que a situação se torne ainda pior, com o aumento de acidentes e mortes decorrentes desta falta de fiscalização efetiva, falta de treinamento dos caminhoneiros e falta de bom senso a todos.
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