Porém, no último domingo eu resolvi voltar a colocar Etanol no tanque já quase vazio, desvirtuando o Ka dos ensinamentos do AA, fazendo-o regressar à boemia...
Liguei o Zetec Rocam já preparado para os próximos km de letargia que me aguardavam, tempo que a central eletrônica leva para reconhecer a diferente mistura de combustível que está sendo injetada nas câmaras de combustão. E, apesar de ser um motor projetado para Gasolina, o Zetec Flex dispõe de uma taxa de compressão bem elevada, com 12,3:1, o que elevou sua potência de 95 cv para 102 cv, quando queimando o combustível fóssil. Mas e com álcool? Respondo que o ganho foi de nada mais do que 15 pangarés, nada mal.
Acho interessante ver os números de potência e torque do Ka 1.6 até 2009 (antes de ter cavalos e torque surrupiados pela Ford para controle de emissão), veja abaixo:
Potência: 102cv @5500 RPM (E22)/ 110cv @5500 RPM (E100)
Torque: 15,0 kgfm @2500 RPM (E22)/ 15,8 kgfm @4250 RPM (E100)
Curioso. É um dos pouquíssimos casos aonde a central eletrônica do motor altera tanto as curvas de torque (e confessa) dependendo do combustível utilizado. Por esses números dá pra dizer que, quando está queimando 100% de Etanol, o Zetec Rocam se comporta como um 16V. Com comando de válvulas variável, diga-se de passagem, pois não há perda de torque em baixa. Pelo contrário, há uma grande oferta de torque em baixa rotação e apenas o pico é atingido em uma rotação mais alta, uma delícia.
Mas voltando à prática, apontei o carro para sair do posto e, como de costume, faz-se necessária uma acelerada forte para atingir a velocidade dos outros carros na via. 1ª marcha engatada, pé embaixo e...NOSSA! Uma resposta absurda do acelerador, costas coladas no banco. 2ª marcha, giro subindo rápido, um ronco mais agressivo e áspero do motor. 3ª marcha, velocidade incompatível com a via, minha namorada com olhar de reprovação e então encosto o pé no freio.
Mas como é possível 8cv e 0,8 kgfm de torque causarem tanta discrepância? Fato é que a central eletrônica altera uma série de parâmetros na resposta ao acelerador, tornando o carro muito mais forte e arisco. Uma das alterações visíveis é o corte de giro do motor. Enquanto com Gasolina o corte ocorre antes das 6000 RPM no painel, usando Etanol o ponteiro belisca a faixa vermelha aos 6500 RPM.
Com o Ka 1.6 bebendo E100, a relação peso/potência sem motorista é de 8,56kg para cada cavalo carregar. Para se ter uma idéia, essa mesma relação do Bravo T-Jet, um esportivo, é de 9,01 kg/cv. Entendeu a magnitude da coisa?
Eu costumo dirigir em 1-3-5 buscando economia de combustível na cidade, mantendo sempre o giro baixo e o acelerador recebendo uma leve pressão. Diante disso, usando Gasolina E22 no tanque o Ka me pedia uma redução de marcha sempre que eu precisava ganhar velocidade em 5ª. Com Etanol isso não ocorre, basta encostar suavemente o pé no acelerador em qualquer marcha e o carro responde, simples assim. E o melhor, a Ford não precisou valer-se de um câmbio curto como estamos cansados de ver por aí. O câmbio do Ka 1.6 é 4+E, são 3000 RPM a 120 km/h e a velocidade máxima é atingida em 4ª.
O único revés é sentido no consumo e, consequentemente, no bolso. Enquanto queima Gasolina, o Ka 1.6 faz, com ar desligado, uma média de 12 km/l na cidade e incríveis 18 km/l na estrada, a 100 km/h. Com Etanol a situação é diferente, são 7,5 km/l na cidade e 10 km/l na estrada. Devido ao tanque de 45 litros, abastecer com Gasolina é a melhor escolha em qualquer situação, a menos que você colecione nota fiscal de posto.
Marcelo Silva
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