Logo ao adentrar na Uno prateada, fiquei impressionado com o bom espaço interno disponível para o motorista. Esta versão avaliada, de 4 portas, não possuía regulagem de altura do banco nem do volante, mas, ao contrário do que é padrão, parece que as Uno mais básicas foram feitas para motoristas bem altos. Com o banco pouco além da metade do seu curso, me acomodei muito bem, com amplo espaço para as pernas, braços dobrados corretamente e coluna semi-ereta. Minha cabeça estava longe do teto e meus ombros longe das janelas, sem nenhuma sensação de claustrofobia.
Convém dizer que eu tenho 1.90m e a altura do volante estava corretíssima para o meu uso. Meu pai com 1.75m achou o banco muito baixo e o volante muito alto. Logo, tenha em mente que a regulagem de altura do banco/volante é um opcional mandatório para aqueles mais próximos da altura padrão do brasileiro.
A ergonomia do carro é muito boa, com os comandos próximos à mão do motorista. Até mesmo o acionamento dos vidros elétricos dianteiros no painel (one touch subida e descida), como o Fiat 500, não ficou tão ruim, é apenas questão de costume.
Os comandos de acionamento dos faróis/lanternas é padrão, assim como o acionamento dos limpadores. Por sinal, o limpador dianteiro possui a útil função "uma varrida" quando o lavador é acionado. Pode-se dizer que é um luxo no segmento em que o carro se encontra.
Indicador de porta aberta, um luxo. |
À esquerda do volante, há uma série de botões sem uso, além dos acionadores do desembaçador traseiro e faróis de neblina. À direita, os comandos do ar-condicionado, que são meio duros e imprecisos, passando a impressão (real) de serem feitos para custar pouco. Abaixo destes, um porta objetos meio inútil que sequer abrigou meu celular. Sobre o porta-luvas, há um porta objetos melhor, com ressaltos para divisões, tendo a tomada 12V à esquerda. Porém, qualquer objeto colocado ali irá fazer bastante barulho, pelo contato direto com o plástico duro, algo comum no segmento.
Logo abaixo há dois porta-latas, pois copos maiores do que 300ml não cabem ali. No teste do Drive Thru, aonde eu tento colocar copos de 500 ml nesses compartimentos, a Uno não foi aprovada. Em cada uma das portas há um porta-garrafas, mas também servem apenas como porta-latas. Apesar do bom tamanho, são rasos e atrapalhados pelo puxador da porta, não permitindo que garrafas fiquem em pé ali, sujeitas a cair e atrapalhar a vida do condutor e passageiro.
Acabamento da porta |
O acabamento dos bancos é bom, e o tecido é de bom gosto. Quanto aos assentos, são duros, oferecem pouco conforto e pouco apoio para a região lombar. Após algumas horas dirigindo o modelo, foi inevitável não sentir dor nesta área. Os apoios de cabeça são costurados no banco e não permitem regulagem, mas parecem aptos a cumprir sua função para motoristas de qualquer estatura, no caso de uma colisão traseira. Já a regulagem da inclinação do encosto é péssima, efetuada por alavancas localizadas no local correto, próximas ao encaixe dos cintos de segurança. O modo de operação é padrão, eleve as costas do encosto, puxe a alavanca para baixo para subir o encosto e, para descer este, puxe para cima. Parece simples, e é, mas o ajuste milimétrico é impossível e convém dispor de bastante paciência para encontrar a posição correta.
Atrás, bom espaço para as pernas |
Há cintos de três pontos nos assentos laterais e cinto abdominal no meio, mas nenhum destes é retrátil. O comando dos vidros é manual, neste e em qualquer Fiat Uno. Não sei o motivo da Fiat não ter disponibilizado vidros elétricos traseiros e retrovisores elétricos para a Uno, mas são itens importantes que não podiam ser deixados de fora, principalmente para um carro popular, voltado para muitas pessoas que irão colocar a família inteira dentro destes e viajar longas horas no primeiro feriadão que vier. Ei Fiat, crianças adoram girar a manivela dos vidros sem os pais saberem.
Porta traseira |
Apoios de cabeça em vírgula |
O porta-malas de 280 litros é suficiente e bom para um compacto. Apesar do banco traseiro não ser bipartido, o acesso ao compartimento de cargas é fácil, uma vez que a boca do porta-malas possui boa abertura e o recorte no para-choque faz com que o porta-malas não fique tão fundo, facilitando a entrada/saída de cargas mais pesadas.
Puxador muito alto |
Material termoabsorvente |
O estepe, de mesmo tamanho dos outros pneus (175/65 R14) dorme dentro do porta-malas e sua retirada é fácil e sem maiores problemas. Na foto acima pode-se verificar a aplicação visível de material termoabsorvente, para evitar que o calor do escapamento frite aquele bife que você comprou no mercado antes de você chegar em casa, como pode acontecer em outros populares (e não tão populares assim, como o Agile).
A visibilidade interna e externa do modelo é muito boa. Os retrovisores externos são planos mas enormes, permitindo que se ache com facilidade o ponto ideal. O retrovisor interno cobre bem a área do vidro traseiro, que tem tamanho suficiente para proporcionar boa visibilidade, sem qualquer problema para o motorista.
O modelo que avaliei não possuía chave com telecomando, mas ao acionar as fechaduras, a luz de salão (single spot) acendia gradualmente. Ao travar o carro, apagava da mesma forma que acendia. O mesmo acontece ao colocar a chave no contato e ligar o veículo, o que faz com que as luzes apaguem lentamente, como em um teatro, algo bobo, mas que abre um sorriso no rosto daquele que comprou um carro sabidamente barato e espartano.
Acionamento interno do porta-malas não há, nem manual quanto menos elétrico, e requer que seja feito externamente pela chave. Também não há acionamento do tanque de combustível de outra forma que não seja pela chave. O acionamento da tampa do motor é feita por uma alavanca padrão, de plástico duro e com rebarbas, que pode machucar mãos mais sensíveis.
No geral o acabamento é correto, as peças possuem qualidade de montagem aceitável, apesar das rebarbas e dos parafusos à mostra. As saídas de ventilação são redondas, possuem péssima manuseabilidade e são muito ruins à vista, passando extrema sensação de fragilidade e pobreza. Mas pelo menos cumprem seu papel com dignidade.
O ar-condicionado do modelo é bom, gela a cabine com facilidade e o modo de recirculação mantém o ar externo (e seus odores) longe da cabine. Um problema nesse modelo específico que avaliei é que um zumbido do ventilador quebrava o silêncio interno sem cerimônia, se tornando mais irritante conforme se aumentava a velocidade de ventilação.
Na próxima parte, irei citar os aspectos de dirigibilidade e uso na cidade e estrada do modelo, bem como consumo e outros dados importantes.
Marcelo Silva
Fotos: Marcelo Silva (acervo pessoal)
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