Como vimos nas partes anteriores, a Uno agrada em seus aspectos gerais, bem como se mostra um bom carro para os deslocamentos urbanos, apesar de faltar força em algumas situações, fazendo do motor 1.4 a melhor alternativa para o pequeno Fiat na cidade. Mas e na estrada? Será que o Uno Vivace 1.0 agrada?
Na estrada. Foto: Divulgação |
1. Via Dutra, carro vazio (2 pessoas e pouca bagagem)
O Fiat Uno Vivace 1.0 agradou quando utilizado na Via Dutra, bem conservada e com suas pistas de mão única. O limite na rodovia é de 100 km/h na maior parte do percurso entre RJ e SP, baixando para até 40 km/h em alguns pontos na descida da serra no sentido RJ. Com algum planejamento nas ultrapassagens e subidas, é fácil manter o limite de velocidade e acompanhar o fluxo de veículos.
A falta de força fica evidente quando precisamos voltar à rodovia e retomar a velocidade dos outros veículos. Nessas situações o motor Fire EVO requer que seus giros sejam elevados sem dó, esticando as marchas para evitar situações indesejadas. O conta-giros faz falta, mas o ruído elevado do motor no habitáculo indica que está perto do corte e é hora de subir marcha.
Subidas mais intensas pedem redução de marcha, até mesmo uma 3ª, caso o contrário não será possível acompanhar o fluxo à frente. Até aqui nada diferente de um 1.0 típico, sem relações de marcha super curtas. Ou seja, não tenha receio de pisar nele, o Uno quer e gosta.
Quando trafegando em 5ª marcha, estimo que o giro fique em torno de 3.300 RPM a 100 km/h. E a partir dessa velocidade o ruído do vento começa a ficar mais intenso, evidenciando o Cx um pouco elevado, de 0,35, segundo o BCWS. Abaixo dessa velocidade o silêncio a bordo é muito bom. Quase não se ouve o ruído dos pneus em contato com o solo, mérito de um bom isolamento acústico nesse sentido.
Os bancos são confortáveis e apóiam o corpo relativamente bem, deixando a mesma boa impressão de conforto que deixaram no uso urbano. Quanto ao porta-malas, seus 280 litros são mais do que suficientes para um casal em uma viagem curta.
A calibragem da suspensão é voltada para o conforto, cumprindo essa função muito bem. Nas curvas feitas de forma mais intensa, a rolagem da carroceria pode assustar motoristas menos acostumados a essa característica, que talvez ocorra pela não utilização de barra anti-rolagem (estabilizadora). De qualquer forma o carro é muito estável, com um comportamento bastante neutro nas curvas, sendo a traseira bem obediente aos comandos da direção, que tem boa progressividade e possui um peso correto em velocidade de cruzeiro.
Os freios à disco ventilados na dianteira e a tambor na traseira são muito bem dimensionados para o peso do carro. Mesmo sem ABS há pouca tendência ao travamento das rodas bem como a distância de parada é boa, o carro freia sem assustar o motorista. Não houve fading dos freios na descida da serra, mesmo provocando-o. O pedal tem boa modulação.
O consumo medido nessas condições foi excelente, 12,8 km/l com E100 no tanque e ar-condicionado ligado a todo o tempo. Outra coisa que impressiona positivamente é a solidez ao rodar, apesar da carroceria alta sofrer um pouco em demasia com ventos laterais, mas não chega a assustar. Sob chuva o carro se manteve firme em todas as condições, sendo que limpadores de pára-brisa são eficientes e varrem uma boa área do campo de visão.
Trafegando à noite verifiquei que os faróis estavam desregulados no carro testado, incomodando os outros motoristas mesmo no facho baixo, pois o campo luminoso ficava acima do vidro traseiro da maioria dos carros quando na proximidade destes, o que é incorreto.
O veredicto é que o Fiat Uno Vivace 1.0 é um bom carro para um casal sem filhos fazer uma viagem curta utilizando uma estrada de mão única e bem conservada. Viaja muito mais confortável do que alguns rivais com câmbio curto demais e compensa a falta de força com um apetite comedido de combustível.
2. Via Dutra, carro cheio (5 pessoas e bagagem)
Com maior peso no carro, as coisas mudam de figura e o motor sente bastante a tarefa de carregar quase 450 kg extras "nas costas". A aceleração já deficiente do carro se torna ainda mais lenta e, nas retomadas, mesmo com reduções de marcha e pé embaixo, há a desagradável sensação de que o carro não parece estar saindo do lugar. Qualquer subida requer 3ª marcha e paciência, obrigando o motorista a se contentar apenas com a faixa da direita, e isso é imperativo.
Em compensação os freios do carro continuam eficientes e parecem não sentir o peso extra, mantendo o bom comportamento encontrado quando o carro está vazio. A suspensão abaixa normalmente e não causa prejuízo à estabilidade.
Quanto ao conforto, o banco traseiro estreito é cruel com o quinto passageiro. Na presença deste, todos acabam viajando mais apertados atrás, obrigando a mais paradas para "esticar as pernas". Como era de se esperar, o porta-malas fica devendo em capacidade, mas não é nada diferente do padrão da categoria.
O consumo do carro é bem prejudicado nessas condições, devido às constantes reduções de marcha e os longos períodos de pé embaixo. Com uma média de 10,3 km/l, com E100 e ar-condicionado ligado, é gritante a diferença para a média de consumo com o carro vazio.
Diante desses fatos, fica claro que a utilização do Fiat Uno Vivace 1.0 no máximo de sua capacidade mesmo em estradas mais tranquilas não é algo indicado. Talvez fosse melhor parte do pessoal ir de ônibus. Gosta do Fiat Uno e viaja com a família toda? Prefira o 1.4. Mas talvez não seja má idéia pensar em um carro maior e mais potente, ainda que usado.
Na próxima parte veremos como o Uno se sai em estradas de mão dupla.
Marcelo Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário