Ele gosta de aventura. Foto: Divulgação. |
Antes de adentrar no modelo, dou uma olhada no design dessa nova geração. Confesso que o Fox antigo nunca me agradou por fora, e muito menos por dentro. E, quando lançaram o Crossfox, fiquei tentando imaginar como conseguiram piorar o que já era ruim. Mas felizmente os designers fizeram as pazes com a sobriedade típica alemã e nos presentearam com a identidade visual da VW no mundo. No Brasil a identidade apenas não é seguida pela família VW Gol, que adotará a mesma identidade em 2012, e os esquecidos (porém deliciosos) VW Polo/Golf.
Chave canivete. Foto: Divulgação |
Analisando bem as linhas do aventureiro, percebe-se que o carro agora deixa de ter o ar de gambiarra, já que o criminoso quebra-mato improvisado saiu de figura, junto com os faróis de longo-alcance que mais ofuscavam os outros do que tinham alguma utilidade prática. O visual do carro agora é mais limpo, mais condizente com o seu DNA germânico. Com um comprimento de 4,03 m, 1,60 m de altura e 1,67 m de largura, com 2,46 m de distância entre eixos, o conjunto do carro é harmonioso para os olhos.
Visual harmonioso. Foto: Divulgação. |
O painel do carro é algo também comum à nova filosofia da marca. Simples, porém funcional e com qualidade de montagem irretocável. Todos os instrumentos estão no lugar correto, sem extravagâncias. Foi fácil encontrar a posição correta de dirigir, a direção tem ampla regulagem de altura e distância, herança da plataforma PQ24 herdada do Polo. Os bancos possuem espuma rígida e bons apoios laterais. A regulagem de altura é ampla e feita por alavanca, a regulagem do encosto, feita por roldana, tudo como deve ser.
Com os bancos na posição mais baixa, ainda me sinto "nas alturas". Mas afinal, o que eu queria? Estou em um carro que é derivado de um outro carro naturalmente alto, com o agravante de ser um aventureiro urbano. Pelo menos a visibilidade fica melhor, algo reforçado pelos bons retrovisores, com alavanca de ajuste elétrico na porta, no local correto, perto dos botões que acionam os quatro vidros elétricos. A única ressalva para a visibilidade traseira fica por conta do estepe, que incomoda e rouba uma preciosa faixa de visão no pequeno vidro traseiro.
Harmonia também no interior. Foto: Divulgação. |
Engato marcha-à-ré (para a frente, única ressalva do câmbio MQ 200) e sou agraciado com o "tilt-down" do retrovisor direito, algo tão útil quanto ignorado nos carros mais simples. Manusear o volante herdado do VW Passat CC, com todos os comandos de áudio e do I-System, é um prazer, que se soma à maciez da direção em manobras.
Em movimento o Crossfox agracia seu condutor com os engates absolutamente precisos de seu câmbio, com escalonamento ligeiramente curto nas primeiras marchas, dando ao carro uma resposta boa aos comandos do acelerador eletrônico. O motor é o conhecido EA-111, rendendo 104 cv com E100 no tanque a baixos 5.250 RPM. Já o torque é a cereja desse bolo, com 15,6 kgfm @ 2.500 RPM. Esse conjunto é responsável por carregar os 1.130 kg do veículo.
EA-111 1.6 Foto: Divulgação. |
De fato o desempenho do modelo é apenas correto. Não há arrancadas vigorosas e o giro sobe tranquilo até o limite, sem impressionar. Na estrada, basta afundar o pé que o carro retoma velocidade sem apaixonar, mas também sem assustar. Se quiser mais desempenho, basta reduzir uma marcha. Grande parte do mérito fica para o câmbio, que faz milagres. No fundo apreciar o desempenho do Crossfox é como degustar um prato de comida caseira. É bom, mas falta um pouco de tempero. Por falar nisso, talvez seja a hora da VW rever sua linha de motores. Os EA-111 e EA-113 são bons, mas falta algo. E esse "algo" a concorrência já usa como tempero em seus pratos faz algum tempo.
O comportamento dinâmico do carro é excelente. Na cidade, a boa altura de rodagem facilita na hora de transpor obstáculos urbanos, como lombadas e valetas. Em ruas com muitas ondulações, o carro chacoalha bastante, mas acostuma-se. Na estrada, o centro de gravidade elevado do carro faz ele inclinar bastante nas curvas feitas com mais ímpeto, porém a regulagem da suspensão é exemplar, fazendo com que o carro se apóie bem nos fantásticos Pirelli P7 205/60 R15 que equipam o carro. A solidez da carroceria também merece aplausos, bem como a qualidade de construção.
Encontre o erro nessa foto. Foto: Divulgação. |
O conforto no habitáculo é primoroso, com baixo nível de ruído. O silêncio à bordo só é quebrado quando o motor é exigido e seu ronco áspero invade a cabine sem cerimônia. Detalhe que não é sexy, nem sedutor, é áspero e ponto final. Apesar da aerodinâmica prejudicada pelos apêndices "aventureiros", não há ruídos do vento que perturbam a paz no interior do Crossfox.
No excelente computador de bordo, ficou evidenciado um consumo de 9,7 km/l, com E100 no tanque, misturando estrada e cidade, com muito mais estrada do que cidade. Isso dá ao carro uma autonomia não muito elevada, apesar dos 50 litros de capacidade do tanque de combustível.
Devolvi o Crossfox após a breve convivência, satisfeito pela experiência, apesar de não estar apaixonado. Talvez seja esse o motivo que me fez ver que o valor cobrado pelo carro é de altos R$ 50.030,00. Ok, traz ABS e Airbags de série, mas não traz ar-condicionado, que também é um item de segurança, principalmente em dias de chuva. E o preço pode chegar a R$ 61.710,00 quando o modelo é montado no Configurador VW com todos os itens que tornam o carro mais legal, como teto solar e bancos em couro. Claro que há descontos na concessionária, mas o preço continua alto.
Porém, ao verificar a concorrência e identificar que os aventureiros urbanos são todos caros e derivados de carros menores (e de entrada), quando nas suas versões "civis", dá para entender levemente o preço cobrado pelo Crossfox. Mesmo assim, o conjunto não me seduziu a esse ponto. Quem sabe um motor mais apaixonante? Poderia até ser o EA-113 2.0 mesmo, e não seria má idéia.
Resumindo...
O carro é bom em espaço interno, conforto e altura do solo, mas é ruim em desempenho, consumo, itens de série e preço. Sua compra pode ser considerada EMOCIONAL.
Marcelo Silva
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