terça-feira, 6 de dezembro de 2011

JAC J5 no Brasil: Será um Sucesso?

Sem desmerecer outras montadoras chinesas que vem conseguindo vendas expressivas no nosso mercado, como a Lifan, Effa e Chery (com fábrica no Brasil em breve), eu diria que a JAC tem se destacado um pouco mais que as outras no dever de casa, e tem aprendido muito bem como agradar o consumidor brasileiro.

Belíssimo

Fato é que o brasileiro mantém um histórico preconceito com relação a produtos oriundos da China, e não seria diferente com os carros vindos desta promissora parte do mundo. Os coreanos também já sofreram o mesmo preconceito no passado, mas hoje um Hyundai ou Kia é visto como símbolo de luxo e prestígio, graças às suas propagandas mirabolantes (por parte da primeira) ou pela beleza dos seus carros (algo comum).

E foi com base nesses dois pilares, beleza e propaganda, que a JAC iniciou a sua caminhada de sucesso em terras tupiniquins. Exceto pela traseira duvidosa do J3 Hatch, não há nada de ruim no design do J3 Turin ou da minivan J6. A opnião popular é unânime, por fora são carros lindos, assim como o Chery Cielo hatch, diga-se de passagem.

Já que estamos falando em beleza, a JAC trará para o Brasil (provável que seja em Fevereiro/2012) o JAC J5, um sedã de 4,59 m de comprimento, 1,76 m de largura e 2,71 m de entre-eixos, movido por um pequeno motor 1.5 16V VVT, de bons 125 cv @6000 RPM e 16 kgfm @4000 RPM, e que possui uma missão árdua pela frente.

Traseira não tão imponente, mas correta

O propósito inicial do J5 no Brasil era chegar em Março de 2011 e custar algo em torno de R$ 50.000 a R$ 55.000, no usual pacote completo da JAC, atuando na concorrência direta ao Kia Cerato, Honda City e Ford New Fiesta Sedan, além de incomodar as versões mais baratas de carros superiores, como o Nissan Sentra e Chevrolet Vectra por exemplo. Os mais fanáticos acreditavam até na possibilidade do J5 incomodar a dupla dinâmica Honda Civic e Toyota Corolla. Por quê não? O Kia Cerato já chegou a vender mais do que o Honda Civic.

Mas o J5 atrasou e o mercado mudou. Kia Cerato subiu de preço e perdeu força. Honda City também perdeu força. O Ford New Fiesta foi revisto e passou a trazer controle de estabilidade, além dos 7 airbags do pacote anterior. No andar de cima, a Chevrolet matou o Vectra e lançou o belíssimo Cruze. Toyota Corolla e Honda Civic trocaram de roupa e melhoraram. A Renault ataca com o excelente Fluence enquanto a Peugeot veio para a briga com o 408. Até a Hyundai entrou na briga com o superfaturado "melhor sedã médio do mundo" Elantra.

Verdade seja dita. Aquele que consegue pagar R$ 55.000 também consegue pagar R$ 57.000 ou R$ 60.000 com algum esforço, em troca de tradição, mais equipamentos de segurança, mais status perante os vizinhos e também um acabamento mais luxuoso no interior.

Provável painel, sem o "kit multimídia". Mas esse volante...

Então podemos dizer que, para o J5 se tornar um sucesso no mercado, baixar o preço é fundamental. Esse foi o caminho trilhado pela Hyundai antes de trazer para cá "os melhores do mundo". Quando o i30 foi lançado, trazia mais e custava menos do que os defasados concorrentes locais. Já o Azera em sua geração anterior foi outro primor de custo x benefício no lançamento. Isso sem falar no Tucson, sucesso absoluto na classe média que buscava andar de SUV mas não queria um valor alto demais no carnê de financiamento em 72 vezes, bem como também não aguentava mais a proliferação de Ford EcoSport na rua.

Outra coisa que a JAC pode melhorar, incluindo o J5, é a questão do acabamento interno. O volante do J5 é o mesmo do J3. No J6 é a mesma coisa, mas pelo menos há botões. Um crítico pode até dizer que o VW Jetta Highline possui o mesmo volante do VW Gol I-Motion mas, nesse caso, o menor imitou o maior (quando o VW Gol pediu o volante do VW Passat CC emprestado), e não o contrário, como é o caso da JAC. Fato é que o volante do J3 tem aro fino demais e não passa nenhuma sensação de luxo.

A iluminação azul no painel é legal, mas não nessa tonalidade, pois passa a impressão de baixo custo. E o computador de bordo? Em uma época aonde até populares 1.0 nos permitem saber quantos km de autonomia nós temos com o combustível restante no tanque, fica difícil engolir um carro de quase R$ 60.000 sem tal recurso, como é o caso do J6 e parece que será o caso do J5.

Cruise control? Ei, até o Chevrolet Agile tem. Volante com regulagem em profundidade? O VW Gol 1.0 pode ter. E o câmbio automático? Cadê o câmbio automático dona JAC? Tudo bem que eu adoro pisar na embreagem, mas eu faço parte da minoria que perde mais espaço a cada dia. É inegável o prazer de encarar um engarrafamento dando trabalho apenas ao pé direito, ainda mais em um carro voltado para a família (J6) ou para o conforto (J5).

Na questão da segurança, ABS e airbag duplo ainda contam pontos a favor, mas logo ali em 2014 esses itens farão parte do mais básico dos carros. Diante disso, não seria nada mal oferecer controle de estabilidade, controle de tração e mais airbags. Pelo menos os freios traseiros são à disco, bom para segurar os 1315 kg do modelo. Bem que a Nissan e a Hyundai deviam aprender essa lição e colocar tal item em seus modelos Sentra e Elantra.

Uma sugestão interessante também é baixar o preço do J5 para algo em torno de R$ 45.000, colocando-o em uma disputa direta com Renault Logan, Chevrolet Cobalt e Nissan Versa, além do remodelado Fiat Siena que chegará em breve, todos em suas versões mais completas. Acredito que nessa categoria a probabilidade de sucesso do J5 seria maior, apesar de ficar em uma situação incômoda de proximidade de preços com o J3 Turin, que apesar de ser um bom carro, não dispõe de armas suficientes para encarar de frente a concorrência cruel nessa fatia do mercado.

Mas se a idéia inicial para Março/2011 for mantida, mesmo com os 6 anos de garantia e a propaganda massiva, infelizmente o J5 não deverá implacar como a JAC deseja, fazendo com que um carro tão bonito não passe de um mero coadjuvante no mercado, daqueles que a gente vai ver na rua e falar "que legal, é um J5", ao mesmo tempo em que estamos ao volante de outro carro.

Marcelo Silva

Fotos: Divulgação

2 comentários:

  1. Na minha opinião, a JAC está iniciando a vida no mercado brasileiro com o pé esquerdo. Deviam lançar logo um carro mais barato que o J3 e mais equipado que os concorrentes, aí sim, eles teriam sucesso. Excelente blog.
    Abraços

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