Com um ronco encorpado e convincente, o motor Fire 1.0 puxava o compacto em 3ª marcha naquela leve subida, deixando outros carros até mais fortes para trás.
"Cabine do Piloto." Foto: Divulgação |
"Carro 1.0 anda." - Essa frase não saía da minha cabeça. Mesmo após bem-sucedidas experiências no passado com modelos "1 litro", aquele Uno Vivace teimava em me impressionar conforme eu buscava extrair tudo o que ele tinha a oferecer.
Em baixos giros, o motor ronrona como um dócil felino caseiro mas, quando provocado além dos 4000 RPM (estimados), o leão acordava com um rugido forte e constante, devorando asfalto e consumindo a relação da marcha engatada até o fim, sem dó.
A subida em que estávamos logo se tornaria mais íngreme, e viria acompanhada de curvas tão sedutoras quanto traiçoeiras. Sem problema algum para o Uno, calçado com competentes Bridgestone B250, mais grudentos do que esposa desconfiada, que não deixavam o compacto dar nenhuma "fugidinha" do traçado, nem quando severamente provocado.
Curva fechada à direita, 2ª marcha engatada no câmbio de relações corretas e engates justos, subida forte. Segurar o carro é tarefa fácil, pois o volante de tamanho correto e pegada impecável parece ter sido feito segundo as minhas definições de como todos os volantes deveriam ser. Nada complicado para a Fiat, que vende aqui o Punto, o carro nacional com o melhor volante, desde que foi lançado.
Pé no fundo do acelerador e o Uno sobe de giro e velocidade com vigor, logo após contornar a 60 km/h aquela curva que a prudência (caso fosse motorista), não faria a mais de 40 km/h. Eis que chega então mais uma curva deliciosa, essa para a esquerda. Aponto a frente do compacto para o rumo desejado e, após a redução de 4ª para 3ª marcha, o outrora impressionante ronco do pequeno motor agora confirma meu conceito formado sobre ele, invadindo a cabine com seu tom grave de redução, apaixonante, à sua maneira.
Quando as leis da Física começam a atuar sobre o pequeno Fiat, a carroceria se apóia na suspensão finamente calibrada, macia na medida certa, confiável conforme necessário. A traseira do compacto é obediente como um cão adestrado, nem ameaça querer conhecer o lado de fora da curva, mantendo-se no chão de acordo com o que o eixo dianteiro pede e precisa. Aproveito o momento para agradecer aos engenheiros pelas horas de sono perdidas buscando o ajuste primoroso da estabilidade desse carro, bem como fico imaginando como deve ser incrível o Uno Sporting e seu ajuste mais nervoso.
Na descida da serra o conjunto de pneus e suspensão já seriam suficientes sozinhos para tirar qualquer atraso provocado por alguma falha de utilização do motor/câmbio na subida, mas o ajuste de freios se revela um importante aliado. A progressividade é digna de aplausos, com os discos ventilados dianteiros sendo mordidos na hora H pelas pinças, com a força ideal, uma beleza. O alinhamento de pedais e o espaço para as pernas até permite ensaiar alguns punta-tacco, abrindo um sorriso no rosto do motorista.
Chegando ao destino, um restaurante, deixo o Uno à minha espera por alguns instantes. Ao retornar, olho para o pequeno Fiat e vejo um sorriso em seu "rosto". Enxugo os olhos e tento me lembrar se havia alguma coisa "batizada" no refrigerante. Não havia, afinal o sorriso do Uno deu lugar à sua grade habitual. Porém, imagino que ele não tenha escondido a satisfação em saber que era hora de passear novamente.
Marcelo Silva
Nunca dirigi o novo uno, mas me falaram que não anda nada. so dirigindo mesmo pra saber ....
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