segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Revisão Não é a Solução

Com os carros ficando cada vez mais confiáveis, as garantias de fábrica chegando a 3 ou até 6 anos, e as revisões na concessionária custando menos a cada dia, é normal uma pessoa comprar um carro, rodar alguns milhares de quilômetros com ele, e passar para a frente sem sequer abrir o capô do motor ao menos uma vez. Existem motoristas por aí quem nem sabem aonde fica a alavanca para tal finalidade, acredite.

Apesar de você nunca ter me visto, eu vivo embaixo do capô. Foto: BMW.



O grande problema disso é que as pessoas estão usando seus carros da mesma forma que usam um celular ou uma televisão, por exemplo. Querem que funcione, mas não se preocupam em saber como funciona por dentro. Quebrou? Aciona a garantia e leva na concessionária. Acabou a garantia? Leva no mecânico "sabe-tudo" ou compra-se outro. A diferença é que o carro irá lhe punir por má utilização de forma muito mais severa do que um celular ou uma televisão (exceto celulares explosivos, diga-se de passagem).

Na maioria dos carros, o intervalo entre as revisões é de 6 meses ou 10.000 km. Alguns podem ter intervalos de até 15.000 km entre as revisões. E o que é feito nessas revisões? O básico. No geral, troca-se óleo, filtros de ar/óleo/combustível, além de velas/cabos de vela, caso seja a hora. Então o dono do carro sai da concessionária feliz e contente, com o seu carro "novo de novo", pronto para encarar mais 10.000 km de vida muitas vezes nada saudável sem voltar ao consultório médico.

Para evitar que nesse intervalo de tempo o carro venha a se vingar da sua falta de cuidado com ele, cabe seguir as dicas simples de manutenção abaixo, que com certeza lhe farão economizar dinheiro, tempo e paciência, até uma média de 30.000 km rodados, afinal a partir desse ponto o carro poderá demandar mais atenção à manutenção preventiva.

1. Troca de óleo - A maioria das fábricas recomenda que as trocas sejam feitas dentro do intervalo previsto de revisões, exceto em casos de "uso severo", que a troca deve ser feita na metade do tempo. Mas você pode acabar se perguntando: como sei que meu uso é severo?

Foto: Divulgação.

Quando você usa seu carro, você costuma rodar menos do que 20 minutos com ele? Se roda mais do que 20 minutos, é em engarrafamento? Seu carro só vê estrada quando tem que carregar os 500 kg da combinação filhos-sogra-bagagem-papagaio-cachorro no feriadão?

Se você respondeu "SIM" a qualquer uma das três perguntas acima, lhe digo que o uso que você faz do seu carro é severo. O motor tem uma temperatura ideal de funcionamento, que o seu conjunto de arrefecimento (o radiador, aquele ventiladorzinho que faz barulho de vez em quando) mantém com o rigor daquela sua professora de matemática mal-encarada da sexta série. Porém quando o motor é desligado antes de atingir essa temperatura ou é obrigado a oscilar de temperatura muitas vezes no engarrafamento (liga-desliga do ventiladorzinho), quem mais sofre é o óleo.

Portanto, para evitar improváveis (mas possíveis) situações desagradáveis, considere seguir o padrão de "uso severo" daqui pra frente. Por via das dúvidas, habitue-se a olhar a viscosidade do óleo de vez em quando, checando a vareta do óleo, caso o seu carro possua. Quanto mais escuro estiver, mais sofrido está o óleo do motor.

2. Filtro de ar - O carro parece meio fraco quando você pede força a ele? Está com aquela sensação de que talvez seja algo errado com o combustível? Cheque a quilometragem, pode ser o filtro de ar.

Olá, sou um filtro de ar. Foto: Divulgação.

Se você está acostumado a rodar em grandes cidades, com todo o nível de poluição que respiramos todos os dias, é bem possível que o seu filtro de ar tenha uma durabilidade menor do que o estimado nos intervalos de revisão. Caso você tenha o hábito de usar estradas empoeiradas, a situação é ainda pior.

O filtro de ar é barato, não é muito complicado de trocar (o manual do proprietário ensina, você leu, não leu?) e faz uma diferença danada quando é trocado. A durabilidade varia, mas a cada 7.000 ou 8.000 km já é uma hora boa para trocar. Porém nada substitui a inspeção visual.

3. Alinhamento e balanceamento - Toda roda bem balanceada atrai buracos enormes da mesma forma que cachorro peludo atrai pulgas esfomeadas. Claro que é uma brincadeira, afinal tenho certeza que você é um motorista cuidadoso e não cai em buracos, eles que entram embaixo do seu carro.

Foto: Divulgação.

Brincadeiras à parte, o correto alinhamento e balanceamento é um dos itens de manutenção mais negligenciados em um carro e, talvez, é o serviço feito com menos esmero e precisão pelas oficinas. Fato é que reconhecer que um carro está desalinhado é uma tarefa difícil para o dono, afinal ele se acostuma com o carro, e acaba não percebendo que a estabilidade piorou, que a direção está puxando para os lados, que aquela trepidação entre 90 e 100 km/h não é normal, etc.

Claro que um dono cuidadoso percebe esses detalhes acima, mas o problema é que um carro desalinhado nem sempre apresenta esses sintomas. Então o dono acaba percebendo da pior maneira, ou seja, quando os pneus começam a sofrer desgaste irregular.

Para evitar problemas e gastos desnecessários, tenha uma rotina de fazer o alinhamento e balanceamento completo a cada 5.000 km. É um intervalo conservador? Sim, mas é melhor prevenir do que remediar. Ainda mais levando-se em conta que o serviço costuma custar em torno de R$ 50 a R$ 80 em oficinas especializadas, bem mais barato do que um pneu. Convém lembrar que esse tipo de serviço não cancela a garantia de fábrica, ou seja, evite fazer este serviço na concessionária, que cobra bem caro e não é sempre que eles acertam no resultado, acredite se quiser.

Como a questão do correto alinhamento/balanceamento é uma caixa-preta para muitos motoristas, é comum a "empurroterapia" nas oficinas que fazem esse serviço. Na dúvida, desconfie. Em breve farei um post específico sobre isso, mas posso adiantar que todas as informações que você precisa estão no manual.

4. Rodízio dos pneus - Essa é uma prática que faz toda a diferença, definindo se seus pneus vão durar 10.000 ou 100.000 km. Exageros à parte, o rodízio de pneus no prazo correto faz com que seus pneus tenham uma durabilidade muito maior, além de permitir que o motorista tenha controle sobre o desgaste irregular, que pode estar sendo causado por alguma falha na suspensão, no balanceamento das rodas ou mesmo a falta de atenção com a calibragem dos pneus.

Rodízio deve ser feito a cada 5.000 km, ao contrário da recomendação padrão, que é para ser feito a cada 10.000 km. Como o rodízio requer um novo alinhamento/balanceamento das rodas, basta efetuar os dois serviços juntos na sua oficina especializada de preferência. Uma oficina honesta não irá lhe cobrar nada pelo rodízio.

O rodízio dos pneus consiste em passar os pneus do eixo dianteiro para o eixo traseiro, respeitando o lado em que estavam. Farei também um post sobre isso, para que não restem dúvidas.

Mas o rodízio dos pneus não é feito nas revisões? Deveria ser feito, mas a realidade é outra. Como o rodízio requer alinhamento/balanceamento e este serviço não está listado nas "revisões preço fixo/fechado", o consultor irá lhe informar que para efetuar os serviços em questão a sua revisão talvez acabe custando uns 50% a mais. Desnecessário.

Seguindo-se essas dicas, a sua convivência com o carro será muito mais agradável e praticamente livre de sustos, até os 30.000 km, diga-se de passagem.

Marcelo Silva

Um comentário:

  1. Muito boas as dicas, principalmente para algumas mulheres que, como eu, preferem deixar a responsabilidade pra os "mocinhos" entendidos que fazem as nossas revisões.

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