Impressões: Ford New Fiesta Hatch

Eu poderia concluir esse post com apenas uma frase, dita pelo vendedor que me atendeu na concessionária Ford para me mostrar o New Fiesta, mas como este é um blog automotivo e a idéia é passar o máximo de informações possíveis para entusiastas e possíveis compradores, vou levar à frente esta tarefa de lembrar daqueles momentos ao volante do hatch.

Delicinha. Foto: Divulgação

Lá está o modelo top parado no pátio, com suas rodas aro 16 bem parecidas com as do Focus Titanium. E elas casam bem com o modelo de cor preta, que evidencia seus cromados que adornam todos os ângulos do carro.

Ao seu lado o Fiesta Rocam parece envelhecido, mesmo com o face-lift de gosto duvidoso que tenta imitar o estilo Kinetic do seu sucessor. Assim como o homônimo recurso do videogame Xbox ou o conceito de energia cinética, a idéia do estilo Kinetic é o movimento, "energia em movimento" como diz Martin Smith, seu criador. E energia o New Fiesta tem de sobra para colocar o coração de muita gente em movimento.

Charme das costuras brancas. Foto: Divulgação

Abrindo a porta do carro, me deparo com bancos de couro com costuras brancas, que até lembram os bancos do Ford Fusion que avaliei em algum lugar do passado, com os devidos descontos. O assento e encosto são largos, apóiam confortavelmente meu corpo de proporções avantajadas. Mas, até aqui, nada demais.

Eis que então procuro a alavanca de ajuste em distância do banco, uma puxada e estou com as pernas na posição correta, algo raro em um compacto. Ajusto a altura do assento para baixo e fico perto do chão, perfeito! Mas ainda poderia melhorar. Puxo a alavanca para ajuste da coluna de direção e coloco ela na altura e distância que eu quero, não a que o carro quer. Não existe nada melhor nessa faixa de preço no mercado nacional, já me cativou.

Falta algo aí. Foto: Divulgação

Pego o volante com as duas mãos e confesso que acabou a minha paixão pelo volante do Fiat Punto, existente desde 2007. Assim como a posição de dirigir, o New Fiesta também é dono da minha referência de volante. Tamanho ideal e pegada perfeita, incrível. Nem senti falta do acabamento de couro.

Entorpecido pelo tratamento do carro ao seu motorista, inicio um breve test drive nas ruas próximas, com o aval do vendedor para "conhecer o carro". A direção, elétrica, é absurdamente leve em manobras, mas também tem uma progressividade exemplar quando o carro está em movimento. E a comunicação das rodas com o volante é bem direta, quase esportiva.

A embreagem macia e de curso médio permite um fácil manuseio do câmbio manual de 5 marchas, preciso e de engates curtos, como é padrão na Ford. Esse câmbio por sinal está pouca coisa abaixo do MQ200 da Volkswagen, na média do câmbio que a Chevrolet usa no Cobalt e bem acima do câmbio que a Fiat usa no Punto e família.

Painel moderno. Foto: Divulgação

Há um apoio de braço escamoteável para o motorista, que contribui para o conforto e não atrapalha o manuseio do câmbio. No console central, há três porta-copos que abrigam copos de 500 ml do McDonald's, além dos nichos para garrafas nas portas. Gostei do visor do sistema de som Sync, que também possui boa qualidade sonora. Atrás da alavanca de câmbio ficam localizadas a porta USB e a entrada auxiliar.

Tudo ía bem no test drive com o hatch, até que, ao transpor uma pequena lombada em baixa velocidade, senti o defletor plástico na dianteira raspar dolorosamente no obstáculo. Eu olhei pra cara do vendedor que ficou meio sem graça, afinal, era uma lombada muito baixa, dessas que um Peugeot 307, conhecido por sua frente baixa, passaria sorrindo por ela, no dobro da velocidade que passei com o Fiesta.

Parece que esse fato afastou um pouco o Fiesta da minha vida, afinal, apesar das melhorias que foram feitas em algumas ruas, 90% das vias brasileiras continuam sendo crocantes, e cheias de lombadas de todos os tipos, tamanhos e cores. E, já que a paixão estava começando a ir embora, comecei a ver os defeitos.

Pouco espaço. Foto: Divulgação

Em primeiro lugar, o compacto da Ford é um carro para duas pessoas viajarem com conforto na frente e o restante viajar apertado. Com o banco do motorista regulado para mim (1,90m de altura), só caberia uma criança atrás. Eu não conseguiria viajar no banco traseiro nem com um anão sentado no banco dianteiro, afinal meu pescoço ficou torto por causa do teto baixo. Pessoas de estatura mediana conseguem se acomodar melhor nos bancos traseiros, mas só de forma aceitável.

Pelo menos os passageiros viajam com a segurança de airbags por todos os lados (7 no total), cintos de segurança de 3 pontos e apoio de cabeça para todos atrás, além de sistema LATCH de fixação de cadeirinhas e um resultado exemplar em testes de impacto nos EUA.

Também estranhei os comandos do Ford SYNC no volante, afinal, servem para operar a telefonia, alternar música/estação, etc, mas não opera o volume. Isso é uma falha global do New Fiesta, não só o nosso. Em alguns mercados, como na Argentina por exemplo, há os comandos do lado direito para operar o cruise-control, mas só, nada de operar o volume. 

Aliás, o New Fiesta argentino possui também o sistema de chave inteligente e teto solar, além do cruise-control já citado. Qual o problema em oferecer estes opcionais aqui no Brasil? Ei Ford, pode não parecer, mas nós brasileiros também gostamos de cruise-control, tanto que o novo Fiat Palio oferece esse item.

Informação demais. Foto: Marcelo Silva

Pode ser que eu esteja ficando velho, mas o rádio do New Fiesta é confuso demais, além disso, os comandos ficam muito longe dos braços do motorista, ainda mais quando ele precisa usar o banco totalmente recuado para trás, como é o meu caso.

Mas as críticas ficaram pelo caminho quando fui agraciado com as respostas vigorosas do motor Sigma 1.6 16V com 115 cv e 16,2 kgfm de torque, que são mais do que suficientes para os 1.145 kg do carro. Como todo motor multiválvulas, quanto mais se acelera, melhor fica, e o torque chega na casa dos 4250 RPM, com E100 no tanque. Após alguns minutos atrás do volante, esqueci totalmente do que eu tinha reclamado antes.

A suspensão é dura, mas filtra bem as irregularidades do solo. Não pude levar o carro nem próximo do seu limite, mas caso alguém pense em fazer isso, é bom saber que há controles de tração e estabilidade para corrigir os excessos do aprendiz de piloto. Por falar em eletrônica, há o Hill Holder, sistema que segura o carro em aclives ou declives, para que o motorista possa sair com tranquilidade em ladeiras, sonho de consumo de 9 entre 10 alunos de auto-escola.

Os freios à disco ventilado na dianteira e tambor na traseira são bem dimensionados e operados por um pedal com progressividade que beira o estado-da-arte. Em caso de necessidade, o ABS atua de forma correta, sem trepidar o pedal de forma a assustar os pés não-iniciados.

Design agressivo e sensual. Foto: Divulgação

Na hora de estacionar o carro, os retrovisores externos enormes ajudam a compensar a falta de visibilidade traseira. Há também "espelhos-de-coreano", pequenos espelhos bem convexos na extremidade dos retrovisores externos, que ajudam a eliminar pontos-cegos. Na prática são tão ruins de se acostumar que acabam por ser dispensáveis.

De volta à concessionária para negociação, o vendedor informa o preço de R$ 42.500 para o modelo básico, que não traz nem ABS e airbag duplo. Já o modelo intermediário sai por R$ 46.900, já trazendo airbag duplo, ABS e todos os anjos-da-guarda que formam o exército de segurança ativa do veículo. E, para completar, a versão top saía por R$ 50.900, trazendo bancos de couro, retrovisores com repetidor de pisca, os airbags adicionais e leds (dispensáveis) de uso diurno na dianteira. Todos com cor sólida e ano 11/12.

Sinceramente, vou contra a maré que diz que esse carro é caro. Ele era caro antes da Ford reduzir seus preços em R$ 3.500, mas agora está bem posicionado perante a concorrência. Por R$ 46.900, o único carro com controle de estabilidade no mercado é o Fiat 500 Cult, com motor 1.4 Fire e bem menor que o Fiesta, com proposta de uso diferente, inclusive. E vou mais além, não há qualquer outro carro nessa faixa de preço que oferece tanta tecnologia e segurança quanto o New Fiesta.

Ah, antes que eu esqueça, a frase dita pelo vendedor foi a seguinte: "Quem realmente entende do assunto, compra esse carro."


Resumindo...

O carro é bom em estabilidade, equipamentos de série, segurança e conforto, mas é ruim em espaço interno traseiro, altura do solo e visibilidade. Sua compra pode ser considerada RACIONAL.

Marcelo Silva