Impressões: JAC J3 Turin

Depois de várias tentativas, finalmente o Direção Assistida conseguiu dar uma volta rápida com o JAC J3 Turin, aonde foi capaz identificar as características do modelo em um trajeto contemplando cidade, um pouco de estrada e até uma situação de emergência.

Sua traseira bem resolvida. Foto: Divulgação.

Confesso que nunca fui fã de produtos chineses, ainda mais carros. Um preconceito bobo, é verdade, visto que há mais coisas made in China ao nosso redor do que impressões digitais nessa tela que você está usando agora. Fato é que nossos amigos de olhos puxados chegaram para ficar, e estão cada vez mais agregando qualidade e bom gosto aos seus produtos. Os carros da JAC são um exemplo claro disso.

Sob a tutela do competente Sérgio Habib e com uma política de marketing agressiva, valendo-se do Faustão como garoto-propaganda, a JAC conseguiu em pouco tempo estar "na boca do povo". Primeiro vieram os compactos J3 e J3 Turin, depois a minivan J6 e, por fim, o recente sedã médio J5. Espero dirigir todos e trazer  as impressões para os leitores do Direção Assistida.

O JAC J3 Turin é um sedã compacto com 4,15 m de comprimento, 1,65 m de largura, 1,46 m de altura e 2,40 m de distância entre eixos. Sua massa é de 1.100 kg, apoiada em pneus Champiro 128 de medida 185/60 R15, montados em um conjunto de suspensão dotado de McPherson na dianteira com barra anti-rolagem e Dual Link na traseira, independente, único em sua categoria. Sua gama de concorrentes é ampla, indo deste o Chevrolet Prisma, passando pelo VW Voyage e chegando nos grandões Nissan Versa e Chevrolet Cobalt.

Design da dianteira. Foto: Divulgação

Abro a porta do modelo e sou agraciado com um delicioso cheiro de couro, que é um opcional instalado na concessionária e eu recomendo. O tecido original é um veludo sem graça, que suja tão fácil quanto piso de estação ferroviária. O banco é confortável e abriga bem o corpo, apesar de eu ter achado o assento um tanto quanto curto para minhas pernas gigantescas. Mesmo assim, fui bem acolhido pelo chinês.

O volante é uma peça de aspecto simples, com quatro raios e aro mais fino que o desejável. É regulável em altura, mas não tem muita amplitude. Os bancos não possuem regulagem em altura e não vejo alternativa a não ser dirigir nas alturas. Pelo menos é mais próxima do chão do que a regulagem mais baixa do Cobalt. O painel tem um desenho de acordo com o padrão da categoria, mas dá uma impressão melhor que o painel do Renault Logan, por exemplo. O único senão fica por conta das saídas de ventilação redondas, essa péssima moda que só as montadoras acham interessante. Também não gostei do painel de instrumentos, lembra o Gol Geração 3, tendo o conta-giros no centro do velocímetro como única ousadia.

Jogo o banco para trás e sobra espaço para minhas pernas e cabeça, a posição de dirigir é agradável com boa visualização dos retrovisores e da área externa. Resolvi verificar o espaço no banco traseiro, que é tão ruim quanto na concorrência derivada de carros compactos. A cabeça bate no teto, as pernas ficam tortas e os ombros esbarram nas portas. Pelo menos o banco é confortável. Ok, brasileiros e chineses não possuem média de 1,90 m de altura como esse que vos fala, então, digo que o J3 Turin acolhe bem quem tem em torno de 1,75 m ou até 1,80 m. E não precisa economizar nas bagagens, cabem 490 litros no porta-malas.

Painel. Foto: Divulgação

Eis que então era chegada a melhor hora. Chave no contato, dou a partida no motor 1.4 16V DOHC com comando variável, que rende excelentes 108 cv @ 6000 RPM e possui 14,1 kgfm de torque, entregues aos 4500 RPM, que queima apenas Gasolina. É uma baita potência e torque, ainda mais levando-se em consideração que o deslocamento volumétrico é de 1.332 m³. Esse motor é comparável ao Multiair do Fiat 500, que mesmo assim é maior e mais fraco. Quanto ao Fiat Fire EVO ou o Econo.Flex da Chevrolet? Nem comento.

Engato a 1ª marcha no câmbio de engates curtos e macios. A alavanca é pequena e casa bem com a mão direita. O pedal de embreagem é macio mas tem o curso um tanto curto, por isso quase deixei o motor apagar, lembrando dos velhos tempos da auto-escola. Para subir os giros, o acelerador eletrônico é acionado por um pedal com curso correto. Esterçando a direção hidráulica bem macia, logo ganho as ruas.

Para não ser atropelado pelo fluxo de carros, chamo os 108 cavalos para fora do curral dando uma pisada vigorosa no acelerador. O comportamento do J3 é típico de um motor girador, com resposta lenta em baixos giros e uma força absurda acima dos 3500 RPM. Mantenha os giros altos se você gosta de brincar e o J3 vai te recompensar com um vigor apaixonante, acompanhado por seu ronco levemente instigante. Para quem gosta de trabalhar com o câmbio, é uma boa pedida. Com motor cheio, o ponteiro do conta-giros é varrido até as 6200 RPM, quando ocorre o corte de injeção. É preciso cuidado para não levar uma multa.

Delícia de motor. Foto: Divulgação

No circuito urbano, dá para dirigir de forma calma pulando marchas mesmo com a baixa oferta de torque. Só não dá para passar em lombadas usando 3ª marcha, o que pode desagradar o motorista brasileiro típico. Sem preguiça de reduzir marcha, o J3 Turin anda muito bem, é uma verdadeira delicinha.

A suspensão alta e macia filtra com competência as irregularidades do solo, fornecendo um nível de conforto interno só visto em modelos de categoria superior. Dá para carregar uma caixa de ovos em uma rua de paralelepípedos sem correr o risco de fazer parte da omelete do jantar. O isolamento acústico também é bom, pena que a JAC investiu tanto no motor e economizou no rádio, que tem display feioso, botões pequenos e qualidade sonora sofrível. 

Na estrada, o compacto chinês corta o vento com facilidade, fruto de um Cx que deve ser baixo. O rodar é macio e silencioso, com alguma flutuação causada pela suspensão macia, mas nada que possa apavorar motoristas acostumados com suspensão "McPedra" dos compactos brasileiros. Nas curvas há um pouco de rolagem da carroceria, mas o J3 Turin está sempre na mão, fruto do trabalho da suspensão traseira independente. Os pneus Champiro também fazem sua parte muito bem. No limite, a tendência do carro é um leve subesterço, controlado com facilidade.

Painel de instrumentos. Foto: Divulgação

Durante a avaliação de estrada, o susto. Enquanto o J3 Turin trafegava tranquilo dentro do limite de 80 km/h do trecho da RJ-106, dois cavalos suicidas resolveram pastar na beira da estrada, após uma curva, me obrigando a subir em cima dos freios com vontade. Mesmo em curva, com o auxílio do ABS e EBD nosso amigo chinês se valeu do conjunto disco ventilado na dianteira e tambor na traseira para salvar a minha vida e a dos cavalos. O carro parou em um espaço curto, com mínimo desvio de trajetória, controlado no volante. Curados do susto, eu e o J3 desviamos dos cavalos e seguimos em frente.

Ao final do percurso, enchi o tanque novamente e constatei um número de fato impressionante. Foram 13,8 km/l de gasolina após uma combinação de cidade e estrada, quase nunca abaixo da faixa de giros ideal do motor, comprovando que esse propulsor AVL, além de divertido, é econômico.

É incontestável que o preconceito mencionado no início desse post não tem qualquer fundamento quando estamos ao volante do JAC J3 Turin. O sedã é oferecido por R$ 38.990, entregando uma boa combinação de conforto e equipamentos que dificulta bastante as noites de sono da concorrência. Minhas recomendações ao importador é que seja revisto a questão da falta de regulagem de altura do banco, a falta do computador de bordo e que também seja adotado um rádio de melhor qualidade. Com esses alterações feitas, o J3 Turin seria um sério candidato à minha garagem.


Resumindo...

O carro é bom em desempenho, conforto, consumo e comportamento dinâmico, mas é ruim em acabamento interno e equipamentos. Sua compra pode ser considerada RACIONAL.


Marcelo Silva