Quero ser Evo. |
São 6:20 de uma manhã típica de outono. Enquanto o sol briga por um espaço entre as nuvens de cobre, um vento fresco entra pela fresta de 2 dedos na janela do motorista. E não está só, junto entra o ronco do motor Mivec 2.0 16V, que invade meus ouvidos sem sequer convidá-los para jantar antes. Patada na enorme pedaleira metalizada que convida as pastilhas famintas a morderem as pizzas de freio (são 15 polegadas na dianteira e 14 na traseira, quase do tamanho de uma pizza grande de mussarela). O ABS entra suave, maximizando o contato de 215 mm de borracha da estirpe Yokohama no asfalto poroso.
A curva é para a esquerda. Me aproximo dela reduzindo uma marcha pela borboleta metálica atrás do volante, igual à do Evo. O conta-giros revela os 5000 RPM de pura alegria do motor. Enquanto contorno a curva sem sustos, vou acelerando progressivamente e o câmbio me obedece como um Labrador treinado. É um CVT, mas sua terceira marcha simulada pelo "Sports Mode" fica lá até eu golpear o paddle da direita, chamando a marcha seguinte. O câmbio não tem vida própria nessas condições, ele apenas te obedece, da primeira à sexta marcha simulada. E as relações são perfeitas, irretocáveis, doces e suaves como o asfalto à minha frente tingido pelo facho azulado dos faróis de xenon.
Paddle shifts de verdade. |
Adiante se aproxima mais uma sequência de curvas: esquerda, direita e depois esquerda de novo. O asfalto meio ondulado provoca a dinâmica do carro tanto quanto a sua namorada te provoca com aquela calça de couro. Meu amigo Lancer responde deliciosamente às provocações, quase neutro, com qualquer abuso sendo corrigido tranquilamente pela direção hidráulica rápida e comunicativa. Não há controle de estabilidade, nem nessa versão top de linha, a GT. Mas ele parece não precisar disso, é tremendamente estável, acompanharia um Ford Focus em uma descida de serra sem suar a camisa.
Paro em um restaurante à beira da estrada para tomar um café. Os poucos cidadãos no local são unânimes na curiosidade e admiração pelo carro. Talvez pelas lindas rodas aro 18, ou pela frente agressiva, ou ainda pela cor branca que está na moda e casa muito bem com esse sedã. Uma garçonete não esconde a curiosidade e me pergunta qual o carro. Respondo que é um Lancer, ela faz uma cara de dúvida e continua como se eu não tivesse respondido. "Bonitão!" - emenda ela antes de abrir um sorriso metálico e se afastar.
Lindas rodas. |
O tal bonitão tem 1.90 m de altura, é moreno...ops, acho que ela estava falando do carro. O Mitsubishi Lancer GT tem 4,57 m de comprimento, 1,76 m de largura, 1,49 m de altura e 2,63 m de distância entre-eixos. Sua massa de 1.360 kg é sustentada por suspensões independentes nas quatro rodas (multilink atrás) e pneus Yokohama Advan 215/45 R18. Para puxar a carga, são 160 cv @ 6000 RPM, extraídos do competente motor Mivec 2.0 16V, duplo comando, com torque de 20,1 mkgf @ 4200 RPM. Ainda não tendo sido apresentado ao saquê, esse japonês se serve apenas de Gasolina, para a nossa alegria.
Bonitão. |
No interior, há conforto de sobra para os ocupantes, servidos por bancos de couro macios e bem acabados. Os dianteiros possuem bom apoio lateral e ampla regulagem de altura para o motorista. Tudo é tão bom que até estranho a falta de regulagem em profundidade da coluna de direção. O painel dessa versão apresenta um vistoso DVD Clarion, mas é simples demais, apesar de funcional. No painel de instrumentos, mais simplicidade e funcionalidade, porém o display multifuncional cativa com seu alto contraste. Se sua sogra reclamar do porta-malas de 413 litros, deixe ela se encantar com o teto solar de bom tamanho.
Interior confortável. |
De volta à estrada, deixo o Lancer deslizar suavemente com o câmbio CVT em modo automático explorando as infinitas relações de marcha. A 100 km/h cravados pelo cruise control, o computador de bordo acusa 15 km/l, que em conjunto com os 59 litros de capacidade do tanque proporcionam uma excelente autonomia. O silêncio à bordo só é quebrado pelo bom som emitido pelos 6 auto-falantes bem posicionados. O bem-estar é garantido pelo ar-condicionado automático que mantém os 20 ºC com o rigor de um samurai.
Rodando na cidade o sedã também agrada, graças às suas dimensões não tão exageradas como as de um Renault Fluence ou um Citroën C4 Pallas por exemplo. A transmissão CVT novamente me agrada pela suavidade e também pela esperteza quando eu a provoco com um kick down. O carro não é demasiadamente duro no asfalto lunar, mas dá pena das rodas aro 18 e pneus de perfil baixíssimo quando aparece uma valeta ou um buraco pelo caminho. O consumo em ciclo urbano foi de aceitáveis 9 km/l nesse modelo com seus 6.800 km rodados.
Força e eficiência. |
Prestes a me separar do meu novo amigo, comecei a fazer cálculos de cabeça para ver quanto me custaria ter um desses na garagem. Por enquanto o Lancer é importado, mas deverá ser fabricado no Brasil em um futuro próximo. E graças a essa origem internacional, seu preço não é nem um pouco agradável. Começa em R$ 68.990 para a versão manual e vai a R$ 90.990, para uma versão similar ao carro que eu testei. Foi nesse momento que o Lancer começou a perder suas vantagens.
Por R$ 81.490, é possível o consumidor levar pra casa um Peugeot 408 Griffe THP, com seu eficiente motor 1.6 Turbo de 165 cv e um espertíssimo câmbio automático de 6 marchas. Ainda que seja mais pesado e não possua o mesmo requinte de afinamento da suspensão que o Lancer, este francês contra-ataca oferecendo ESP, ar-condicionado dual zone e mais espaço interno.
Só aí eu já estava decepcionado com o sedã nipônico. Mas a decepção se tornou raiva quando me lembrei que o VW Jetta Highline TSi custa R$ 89.520, com sua combinação estado-da-arte do motor 2.0 Turbo de 200 cv e o fabuloso câmbio automatizado DSG. O alemão fica devendo ao japonês o teto solar e o GPS, que são opcionais, mas ainda que ficasse devendo as rodas, os bancos e tudo mais, eu levaria o motor/câmbio do Jetta para casa e seria feliz.
Diante desses fatos, nem mesmo os predicados oferecidos pelo Mitsubishi Lancer GT e a minha devoção eterna pelo Evo seriam suficientes. Talvez a versão manual de 5 marchas pudesse ser interessante, mas pagar quase R$ 69.000 apenas pelo afinamento impecável de suspensão e acerto de carroceria? Prefiro ir de Focus Sedan GLX 2.0.
Resumindo...
O carro é bom em beleza, conforto, acerto de suspensão, prazer ao dirigir, mas é ruim em preço, falta de itens básicos e falta de requinte. Sua compra pode ser considerada EMOCIONAL.
O carro é bom em beleza, conforto, acerto de suspensão, prazer ao dirigir, mas é ruim em preço, falta de itens básicos e falta de requinte. Sua compra pode ser considerada EMOCIONAL.
Texto: Marcelo Silva
Fotos: Divulgação
Aproveitando a deixa sobre os carros de luxo brancos, salvo engano, todos os Mitsubichi de passeio aceitam essa cor por se encaixare nessa categoria. A Peugeot lançou na primeira propaganda o 308 nessa cor. Será que este os modelos desta categoria seriam o ponto de partida para os carros brancos? O que diria o nobre escritor com o intuito de ajudar alguém como eu que quer comprar um carro branco, existe um valor mínimo, levando-se em conta pontos negativos como a desvalorização? Excelente reportagem, parabéns. Abraços!!
ResponderExcluirO preço tira o tesão completamente...pena...pelo jeito vai encalhar. Se encalhar vamos esperar as promoções ou então quando vier o nacional....quem viver, verá...abraço e parabéns pelo texto.
ResponderExcluirAlguem sabe me dizer qual o tamanho dos alto falantes da versao gt?
ResponderExcluirO X dessa questão é justamente esse: O preço! Isso elitiza o carro, propiciando ao proprietário um certo status, sobressaindo sobre os "mortais", como eu, kkkk. Da mesma forma que um alemão esse japa é pra quem não tem medo da revenda... Abraços
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPor favor me responda, onde é fabricado esse carro? Abraço
ResponderExcluirOlá amigo, desculpe a demora. Se não me engano, é importado para o Brasil direto do Japão.
ExcluirAcabei de comprar um...adorei... nessa faixa tinha muitas opções, principalmente o Cruze o o Civic...o Civic vai mudar de modelo, fiquei meio frustrada e o Cruze é lindo, adorei dirigi-lo, mas não sei...o Lancer me conquistou, a cmbinação da dirigibilidade com o cambio cvt...o torque... à primeira vista o painel é mesmo meio "simples", mas é que estamos acostumados a ver mta informação nos carros...Acho que o painel do Lancer é mais clean, não cansa a vista, me marido tem um Elantra novo tbm...é lindo, mas é mta luzinha, botaozinho, alavanquinha. Tô apaizonada pelo meu Lancer!
ResponderExcluirAinda que um pouco tarde, permito-me parabenizar o colunista! Isto que é avaliação de respeito... Imparcial, mas também complacente com os bons carros!... Mas na minha modesta opinião carros de verdade são os alemães e nipônicos... Nada de excessos e maquiagens, como bem o colocou a leitora Roberta!... Não esquecendo a segurança que proporcionam!...
ResponderExcluirBaita de um carro! Comprei um há 100 dias. Não paro d olhar para ele quando estou perto. Lindo demais!!
ResponderExcluirOlá. Estou na dúvida entre um Lancer MT e um Focus Sedan SE. O que acham? Já dirigi um focus sedan Duratec 2005 e o carro anda muito. Se o novo Focus for assim comprarei um, caso contrário estou querendo ir de Lancer. Alguém tem uma opinião a respeito?
ResponderExcluirRealmente o carro é lindo. Design agressivo que não me canso de olhar. Tenho um Lancer MT há quase 1 ano e não me arrependo de nada. Quanto ao preço, o custo para mantê-lo - seguro, impostos, combustível e revisões - está dentro do esperado, compatível para um carro desta categoria. Quanto a performance, é sensacional, anda muito bem, principalmente na terceira e quarta marchas. O conjunto rodas/pneus é meio barulhento, mas é a escolha que se faz pela esportividade. É um carro muito estável, parece que está andando sobre trilhos. Tenho 25 anos, ao analisar os concorrentes acredito que não tem pra ninguém nessa faixa de preço e categoria! Outro ponto que gosto muito é que existem bem menos Lancers rodando na rua do que Civics, Corollas, etc.
ResponderExcluirTenho um Lancer GT 2015. O carro é fantástico ao que se propõe. O CVT é muito bem afinado e a suspensão tambem. Nos paddle shifters o carro deixa usar todo o potencial do motor. A arrancada partindo do zero é um pouco "xoxa" por conta do conversor de torque mas depois que está andando é uma maravilha. Parece andar em trilhos. Na estrada, no cruise control a 100km/h, a média fica nos 12,5 km/l e na cidade já consegui 9,5 mas fica na faixa dos 7,5 no transito congestionado acelerando com parcimonia. Realmente o valor está um pouco além do esperado mas vale cada centavo. O painel tem as informações necessárias. O multimídia está na medida. A quantidade do som não é das melhores mas não decepciona. Resumindo: Estou muito satisfeito com a minha escolha que tem uma boa parte de emocional e outra boa parte de racional Afinal, a escolha de um carro tem uma grande dose de PAIXÃO! Parabéns ao autor da Matéria!
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