domingo, 22 de abril de 2012

Impressões: Toyota Corolla XRS

De olho no consumidor jovem, a fabricante japonesa lançou o Toyota Corolla XRS. De fato, a versão "esportiva" é uma variação do modelo XEi, com câmbio automático. No passado a Toyota lançou Corolla/Fielder S, com alguns apêndices visuais mas nenhuma alteração mecânica que justificasse o sobrenome apimentado. Será que a novidade é forte o suficiente para merecer o título de esportivo?

Maquiagem esportiva.



Alguns passos diante de mim, um carro de cor prata me encara por trás da máscara negra em seus faróis. Sei que é um Toyota Corolla, mas algo parece diferente nele. Talvez tenha dormido pouco, além das olheiras que mencionei antes, ele também tinha o rosto meio inchado por spoilers na dianteira. Chego mais perto e vejo que essa grade de filete único é novidade, ficou mais agradável. Acredito que no próximo face-lift ou na próxima versão especial, a Toyota vai deixar essa grade aberta de vez.

Dou uma volta por fora do carro e percebo que alguém pintou de grafite as rodas de 16 polegadas das versões XEi/GLi. Há saias laterais, contrastando com os spoilers na dianteira e traseira que, nesse último caso, ficou com um resultado interessante. Um grande e vistoso aerofólio repousa sobre a tampa do porta-malas, tão efetivo neste carro quanto barbatanas em uma galinha.

Mais esportividade.

Ao abrir a porta do motorista, vejo bancos de couro com acabamento perfurado e costuras vermelhas. Algum mosquito fugiu da Fiat e foi morder os designers da Toyota, transmitindo a mesma doença de querer encher de detalhes vermelhos o interior de um carro "esportivo". Que tal a boa e velha costura branca? Traz esportividade e requinte ao mesmo tempo.

Mas, nem tudo está perdido. Que delícia de volante! Base reta, gorduchinho, diâmetro correto, parece ter sido feito sob encomenda para as minhas mãos. A textura do couro é deliciosa, uma verdadeira obra de arte que deveria ser o padrão de tamanho de volante para todos os carros. E duas borboletas de troca de marcha estão logo atrás dele, chamando meus dedos para iniciar a brincadeira.

Volante apaixonante.

Os bancos são confortáveis e possuem razoável apoio lateral, mas nada de esportividade real aflorando por aqui. O espaço interno é um pouco pequeno para um sedã médio, bem distante de latifúndios como os franceses Citroën C4 Pallas ou Peugeot 408. Não achei uma posição de dirigir tão agradável quanto gostaria, o banco podia descer mais ou ir mais pra trás, talvez. Apesar disso a ergonomia em geral é boa, quase todos os comandos estão aonde se espera que estejam. Irritante mesmo só a posição do comando dos retrovisores elétricos, obrigando o motorista a se esticar para operar o botão, a menos que tenha a envergadura de um Jon Jones do UFC.

Coloco o câmbio em D, hora de acordar o motor Dual-VVTi Flex 2.0 16V, com variador de fase na admissão e no escape, que rende deliciosos 153 cv @ 5800 RPM e entrega 20,7 mkgf @ 4800 RPM, quando entregue à vida boêmia. Com gasolina, são 142 cv @ 5600 RPM e 19,8 mkgf @ 4000 RPM. Números bem conservadores para um dos melhores 2.0 da categoria, que puxa bons 1.245 kg, bem abaixo da massa de alguns lançamentos mais recentes.

Primor.

Aponto o sedã para a reta e a aceleração é convincente, forte, progressiva. Dá para perceber que há algo especial lá na frente. Com os giros próximos da faixa vermelha, a concentração de adrenalina no sangue começa a crescer. Eis que o câmbio chama a segunda marcha e... os giros caem demais. Tudo bem, não demora muito para o motor voltar a entregar toda a sua força e atiçar meus instintos, até que... entra a terceira marcha esfriando os ímpetos. O ciclo se repete até entrar a quarta e última marcha. Quatro marchas em um esportivo? Fala sério Toyota.

Em uma sequência de curvas à frente, o Corolla finalmente me arranca uma série de sorrisos, com seu acerto dinâmico prazeroso. A direção é bem comunicativa e o limite de aderência é bem informado ao motorista. Os freios à disco nas quatro rodas são uma beleza, mesmo com um pedal que não é o primor de modulação, mas não irrita. O conjunto McPherson na dianteira e barra de torção na traseira é tão bem calibrado que daria trabalho para um Honda Civic acompanhá-lo na subida de serra em uma tocada mais selvagem.

Mesmo sem a ajuda do câmbio, o motor faz milagres e a barreira dos 100 km/h é rompida com facilidade. Retomadas também são rápidas e eficientes, denotando ultrapassagens tranquilas na estrada. O problema só aparece em uma direção mais rápida, aonde em uma curva mais forte, por exemplo, aonde deve-se optar por uma marcha inferior que deixa o carro gritando ou uma marcha superior que deixa o carro morno. Só que o Corolla é um sedã confortável e econômico (fiz 11,6 km/l com Etanol na estrada), não é feito para andar rápido.

Cockpit contrastando o volante delicioso e o câmbio irritante.

Então qual o sentido dessa versão XRS? Anda igual a uma XEi, tem o mesmo comportamento dinâmico e entrega o mesmo conforto. Pagar R$ 1.500 por esse volante delicioso, claro que val... aliás, não vale. Além do volante o comprador leva apêndices visuais de gosto duvidoso. Ei bean counters da Toyota, carro esportivo precisa ser diferenciado. Pneus 225 e rodas aro 18 de desenho diferenciado ao invés dos Bridgestone Turanza ER300 205/55 R16 já são um começo. E caso isso não fosse possível, pelo menos deveria ser oferecido o câmbio manual de 6 marchas, que pode ser comprado junto com as versões XLi e XEi, dotadas de motor 1.8.

No geral, o Corolla agrada seus ocupantes com um silêncio acústico invejável, bom ar-condicionado digital, sistema de som de boa qualidade e uma suspensão com excelente calibragem, tanto para estrada quanto para a cidade. E além disso bebe pouco, foram 8,2 km/l na cidade com Etanol, nessa unidade com 4.021 km rodados. Carro muito bom. Suas dimensões de 4,54 m de comprimento, 1,76 m de largura, 1,48 m de altura e 2,60 m de entre-eixos são contidas, permitindo boa agilidade na cidade.

Interior agradável (exceto as costuras vermelhas).

Então se o Toyota Corolla XRS é um carro muito bom, quer dizer que eu recomendo a compra? Não. Lamento, mas uma versão esportiva precisa de algo diferente na mecânica. Essa versão XRS não passa de um Corolla XEi com excesso de maquiagem. Você pode até ser cativado pelos encantos da moça mais produzida, mas não se iluda, o XEi pode te dar o mesmo prazer e cobra menos por isso.

Além disso, o carro é caro demais. Todos os Corolla são caros demais, mas o preço de R$ 79.500 cobrado por um Corolla XRS permite comprar um Peugeot 408 THP por pouca coisa a mais, só que esse sim é uma versão esportiva de verdade, diferenciado do resto da sua linha e dotado de 165 felizes cavalos (se bem que um Corolla 2.0 manual daria trabalho a esse 408 com problemas de obesidade). Mas se a idéia for comprar o "inquebrável" Corolla, vá de XEi por R$ 78.000. E se a idéia é levar esportividade pra casa, seu número dentro da linha Toyota é o GLi manual por R$ 68.000. O XLi é básico demais para ser considerado.

Resumindo...

O carro é bom em consumo, liquidez, desempenho do motor e conjunto dinâmico, mas é ruim em preço, excesso de apêndices visuais e câmbio ruim. Sua compra pode ser considerada EMOCIONAL.

Texto: Marcelo Silva
Fotos: Divulgação

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